Sessão de Comunicação 2

12 nov 2019
15:00-17:30
Auditório da Biblioteca do Horto, Museu Nacional, Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro

Sessão de Comunicação 2

1. He Taiao, he tinana, E rua, e rua
Hone Waengarangi Morris, Associate Professor Massey University, Ngāi Te angitotohu ki Rangitāne, Ngāti Mārau ki Kahungunu

A Māori perspective towards the environment includes the human body and its energies. This presentation looks at the words used by my ancestors for parts of the body and the words used in describing various parts of the environment. Collating these words will show the intimate understanding my ancestors had towards the environment and its rhythms.
For example, the Māori word for land is whenua which it also the word used by the ancestors for placenta as both sustain life. The Māori Language (Te Reo Māori) has many examples to support the notion that the language of the environment and the language of the body are inseparable.
Another example is the word Hā = breath and emanates from the seat of the emotions aro. As the breath ascends through the body, it passes through the throat korokoro and on to the tongue arero. The breath then exits the mouth as voice reo¬—the word and phonetical expression originating from the word for tongue arero and as speech kōrero—the phonetical expression and word originating from the words for throat korokoro and tongue arero. The breath shapes the words through the energy of love, compassion aroha—the phonetical expression of the two syllables originating from the words for the seat of emotions aro and the breath hā.
Kiri = skin, bark, rind and hide, Rae = forehead and headland are other examples of the closeness the relationship that my ancestors had with the environment. Other examples that I will share are in the PDF attachment.
These are a few examples of what my presentation will explain when sharing the conceptual origins of Te Reo Māori. Te Reo Māori, like many indigenous languages was initially an aural language until the creation of the alphabet in 1815 at Cambridge University using the English alphabet.
Utilising the ‘rākau a te Pākehā’ , the quill, the pen, the ancestors were quick to express their sentiments and emotions via the written word. This has provided us with a window into their world, their reality, ‘ō rātou kainga waewae’ , whereby we can capture again, this unique understanding and perspective of a world epitomised in a word, articulated in the turn of a phrase.

2. O campeonato da língua: revalorização linguística e resistência política do povo Paumari (Médio Purus, Amazonas)
Reinildo Lopes da Silva Paumari, Zedequias Marques de Souza Paumari, Oiara Bonilla

Desde 2014, os Paumari organizam um grande encontro anual cujo objetivo é « revitalizar » sua língua materna. Idealizado por alguns professores paumari, ele foi pensado sob a forma de um torneio que opõe equipes formadas pelas nove aldeias da Terra Indígena Paumari do Lago Marahã (Rio Purus, Amazonas). O evento foi concebido como uma competição para atrair a atenção dos mais jovens e devolvê-lhes o « gosto pela língua e pela cultura paumari » já que essa geração está hoje mais atraída pelo mundo urbano, pela tecnologia e o consumo. Cada equipe/aldeia escolhe e apresenta uma história ao público. Esta deve ser narrada exclusivamente em Paumari, ilustrada e acompanhada de cantos e danças. Um jurado formado por membros de todas as aldeias avalia as apresentações a partir de quesitos linguísticos, estéticos e performáticos. O objetivo final do projeto é transformar cada história vencedora em desenho animado, elaborado pelos Paumari e falado em Pau
mari.
Após apresentarmos o projeto, descreveremos sua realização e as transformações observadas ao longo de seus cinco anos de existência. Mostraremos que suas consequências vão além do escopo estrito da ideia de revitalização linguística.

3. Kuin Kahab Mikahab – Quero comer, quero viver”: O povo Pataxó Hãhãhãe e a luta por sua língua
Reginaldo Ramos dos Santos

Neste trabalho apresento uma reflexão sobre a língua Pataxó Hãhãhãe e como foi feito os primeiros passos para despertar em toda a comunidade a vontade de reavivar o nossa língua que tem em seu cerne os valores ancestrais deixados por nossos guerreiros anciões que tombaram nessa terra para proteger o que hoje herdamos: a terra e a cultura. O povo Pataxó Hãhãhãe tem uma população de quase quatro mil indígenas e habita no Território Indígena Caramuru Catarina Paraguaçu, que faz divisa com os três municípios do sul da Bahia: Itaju do Colônia, Pau Brasil e Camacan. Até o ano de 1938, o povo Pataxó Hãhãhãe falava somente sua língua ancestral. Bahetá foi a última falante da língua, que viveu até o ano de 1992. A perseguição de destruição contra meu povo fez com que, de maneira forçada, deixasse de falar sua própria língua. Enquanto liderança indígena na educação escolar e tradicional que sou, bem como minha trajetória dentro e fora do meu território, busco desenvolver ações e estratégias com meu povo, para o reavivamento da língua Pataxó Hãhãhãe.

4. A luta pela resistência da língua Pataxó (Patxohã)
Clarivaldo Braz Ferreira

Neste apresentação falarei sobre o processo de luta retomada da língua do Povo Pataxó, o Patxohã, que já vem sendo mobilizado em todas as comunidades pataxó desde 1998, a partir da criação do Projeto de Documentação para o registro da cultura, história e língua pataxó. Além disso, explanarei como os cantos pataxó fortalece esse processo.
A retomada da língua tem contribuído para a fortalecimento da identidade étnica do povo pataxó, na valorização e aprofundamento da sua própria história que tem sido elencada como elemento importante nessa luta política pela afirmação da identidade, autonomia pataxó e ampliado para o conhecimento de experiências de políticas linguísticas locais de base comunitária, desenvolvidas pelos próprios indígenas.

5. Revitalização da Linguagem Kariri-Xocó/Kariri-Xocó Language Revitalisation
Idiane Cruz da Silva, Wmanamy Cruz Santos, Diane Nelson, Thea Pitman

Desde 1989, a comunidade indígena Kariri-Xocó do estado de Alagoas, Brasil, tem se envolvido em um processo único de revitalização cultural. Eles estão trabalhando para trazer de volta sua língua ancestral, Dzubukuá-Kipeá, baseando-se nas memórias comunitárias da língua através de canções e histórias, e preenchendo lacunas no vocabulário consultando arquivos históricos e comunicando-se com seus antepassados. Ícones gráficos são criados para cada palavra, acompanhados de uma tradução para o português, e circulados pelo WhatsApp para jovens e adultos Kariri-Xocó. Professores da língua indígena, apoiados por Nhenety Kariri-Xocó (o Guardião das Tradições), ministram aulas de língua duas vezes por semana para crianças, e os jovens e adultos estão recorrendo à língua Dzubukuá-Kipeá para criar novas músicas.

A colaboração do Projeto de Revitalização da Língua Indígena Kariri-Xocó inclui agora professores e líderes culturais da comunidade Kariri-Xocó, a ONG Thydêwá e pesquisadores acadêmicos do Brasil e do Reino Unido. As atividades do projeto foram expandidas para coletar um arquivo digital de materiais de linguagem, construir um site, e preparar materiais para um livro didático. Também planejamos organizar uma roda de conversa para identificar as necessidades e prioridades da comunidade na revitalização da língua e definir uma agenda de pesquisa colaborativa para o projeto no futuro.
Esta palestra contará a história da revitalização da língua pelos Kariri-Xocó. Vamos ver como uma comunidade indígena está aproveitando a mídia digital para coletar, criar, disseminar e ensinar sua língua como uma maneira de reivindicar uma base de sua identidade cultural. No contexto pós-colonial dos Kariri-Xocó, a revitalização de sua língua é um importante ato de resistência. Mas, por enquanto, é necessário que o processo seja realizado via português ou através de comunicação não-lingüística. Isso significa que a revitalização da língua Dzubukuá-Kipeá é um caso interessante para explorar a relação entre linguagem e identidade cultural, juntamente com as formas pelas quais as tecnologias digitais podem ajudar a apoiar tais iniciativas. No longo prazo, também estamos interessados em ver como os jovens e as crianças usam a língua Dzubukuá-Kipeá de maneira criativa tanto para se comunicar quanto para afirmar e celebrar sua identidade.

Nas palavras de Idiane Kariri-Xocó: ‘A língua para nós é muito mais que palavras. A língua indígena é diferenciada das demais pois emiti um poder de cura corporal e espiritual. A língua é a verdadeira identidade do índio, pois podem copiar seus vesti, sua pintura mais jamais copiaram sua força e energia que só o verdadeiro indígena tem. Quem acredita na ancestralidade não precisa de escola para ter uma grande e admirável sabedoria, pois em um simples adormecer vc pode acordar um professor sem nunca ter frequentado uma faculdade. A força ancestral é uma força inexplicável. Somos Kariri-Xocó: força e vigor do pássaro.’

Os autores do artigo serão professores de línguas da comunidade Kariri-Xocó e pesquisadores da Universidade de Leeds, no Reino Unido.

6. Revitalização linguística como uma parte fundamental dos trabalhos de documentação
Joseph Dupris, Frank José Carrasquilha Matos, Wilson de Lima Silva

Atividades de revitalização e preservação de uma língua são geralmente tratadas como atividades diferentes das atividades de documentação linguística. É comum que projetos de documentação seja visto como atividades que precedem as atividades de revitalização. Baseando-se em trabalhos que abordam a pesquisa por uma perspectiva indígena (i.e., considerando as perspectiva e idéias dos membros da comunidade indígena), nós exploramos alguns dos conceitos teóricos que guiam as práticas que utilizamos em nossos trabalhos de revitalização e documentação linguística com membros das comunidades indígenas em contextos distintos: um na América do Sul (com membros das comunidades Desana e Siriano) e um na América do Norte (com membros da comunidade Klamath). Primeiro, abordaremos os aspectos principais de nossa metodologia de trabalho, que trata as atividades de revitalização e documentação como um par de atividades que podem—e devem—ser realizadas juntas. Então apresentaremos algumas sugestões de como membros de comunidades indígenas podem exercer o controle local das atividades de pesquisa. Por fim, discutiremos, de maneira comparativa entre os dois contextos dessas comunidades, como as pesquisas com enfoque em revitalização podem, também, ser usados como uma atividade que beneficie a pesquisa documentação linguística, sendo assim, uma maneira de fortalecer os laços entre essas comunidades indígenas e as instituições de pesquisa envolvidas.