Poster Session 3
Projeto de preservación y documentación de la lengua karapana (tucano orientale) en una comunidade multilinguie del Vaupés, Colombia
Jhon Vargas Acosta
Este és un trabajo situado en la comunidad Karapana de San Antonio (rio Papurí, Colombia). En esta comunidad viven 23 familias, donde la mayoria son hablantes de la lengua karapana del clan ʉkomãhã (Gente Alívio). Las esposas de los hombres karapanas allá son en su mayor parte de la etnia Bará y Tatuyo. Así todos los niños hablan karapana (la lengua de sus papá) y la lengua Bará (la segunda lengua mais hablada en la comunidade). Todavía las personas hablan differentes lenguas.
En esta ponencia, yo hablaré sobre mi aprendizaje de la linguistica para los trabajos de documentación y preservacion de la lengua karapana hablada en mi comunidad. Los alumnos de la comunidad karapana de San Antonio a lo largo de su curso escolar no realizan y no tienen ningun conociemento sobre el manejo y la importancia de la gramatica de la lengua en la parte oral y escrita. Mientras la mayoria de las personas de la comunidade hablen karapana fluentemente, la lengua escrita no és enseñada en la escola de la comunidad.
Mi objetivo, como linguista karapana, és criar un recomendado de conservación del habla karapana oral y escrita para la comunidad. Así estes materiales pueden servir para la formación de los alumnos y otros profissionais de la lengua. Tras aprender las lenguas de nuestros padres y conservalas es pureza y orgullo para seguir adelante en este conocimiento.
Proposta de dicionário multimídia bilíngue Baniwa-Koripako
Artur Garcia Gonçalves
O presente trabalho tem como objetivo descrever os passos que estão sendo desenvolvidos para elaboração de um dicionário multimídia da língua Baniwa-Koripako com traduções para o português e espanhol. A língua chamada Baniwa-Koripako é também conhecida por Baniwa do Içana, Curripaco ou simplesmente Baniwa. O termo “Baniwa”, deve-se enfatizar, não se trata de uma auto-designação, mas sim um nome genérico usado por esses indígenas quando se fazem representar em contextos multiétnicos ou diante do mundo não indígena. A roda de conversa torna-se bastante fundamental uma vez que podemos dialogar com outros pesquisadores indígenas sobre a experiência de materiais didáticos na documentação e revitalização de suas línguas, trocando experiências e auxiliando outros pesquisadores que se interessam por essa proposta. O projeto se desenvolveu junto a comunidades indígenas do rio Iniali (Içana), Terra Indígena do Alto Rio Negro, Amazonas. A pesquisa compreendeu diversos estágios nos quais podemos elencar: leituras relacionadas a estudos lexicográficos e sobre o povo e língua, inserções e revisões de entradas lexicais, classificação dos léxicos, revisão dos exemplos que estão contidos nos léxicos, inserção de imagens, etc. A pesquisa lexicográfica propõe como resultado um dicionário multilíngue e multimídia com cerca de 1000 palavras nos três principais dialetos da língua Baniwa-Koripako, com traduções adicionais ao português e espanhol. Alguns itens do dicionário, no mínimo 600 itens, serão ainda objeto de informações enciclopédicas sobre seu significado conforme aspectos culturais atribuídos a esses itens pelos falantes de Baniwa e Koripako. Além disso, o projeto vai gerar outros tipos de dados, tais como: Descrição linguística: análises lexicográficas, fonológicas, ortográficas e morfológicas, comparação das variedades da língua Baniwa-Koripako, análise de dados previamente coletados e produção de novos dados e documentação linguística e cultural, com áudio, vídeo e anotações básicas, sobretudo, de itens relativos aos conteúdos enciclopédicos do dicionário.
Yayumbué Linguística, yapuderi arama ti yaxári upawa nheengatu nheenga/Formação Linguística: “Uma estratégia para manter a Língua Nheengatu Viva
Edilson Martins Melgueiro
O objetivo deste trabalho é apresentar resultado de uma experiência intitulada “Yayumbué Linguística, yapuderi arama ti yaxári upáwa Nheengatu Nheenga” . Formação Linguística: “Uma estratégia para manter a Língua Nheengatu Viva”. Pretende-se mostrar como está sendo feito o fortalecimento da língua Nheengatu do rio Negro de ação conjunta no planejamento e gestão para fortalecer a língua/guem e que a mesma não desapareça, pois, apesar dos falantes dessa língua estejam em torno de 6000 pessoas hoje, a cada ano o número de falantes está se reduzindo. Inicialmente, falaremos sobre situação das Línguas Indígenas Brasileira e a situação sociolinguístico do Nheengatu do rio Negro pesquisas. Um breve histórico do Instituto federal do Amazonas-Campus São Gabriel da Cachoeira. Em seguida, abordaremos teorias de Política e Planejamento e Gestão de Línguas que são pontos fundamentais na construção desse trabalho. Finalizamos com foco na formação dos falantes indígenas não somente os professores mais as pessoas interessadas que ocupam várias funções na comunidade dos falantes. Essa inciativa é muito importante, pois compromete todos para fortalecer a língua, não somente professores, além das discussões sobre a fala e escrita na língua nheengatu.
KUNTARI SÁ KWAIRANTU:
Iké yayuí yambeu mayeta yaminhã yaiku, yapuderi arama ti yaxári upawa Nheengatu Nheenga paraná pixuna upé. Kwá muraki yaminhá waá yepesaú kuntari sara ta irumu. Uyí aikwé 6000 miraita usendua waita Nheegantu, má muíri akayú usasá siia piri yamaã uxari waita uiku ukuntari nheengatu. Yakuntari arama sesé wara, yasú kuri yayuripru yambeú nheenga ta resewara iké brasil upé, asui kuri yasu yambeu mayeta nheegatnu uiku paraná pixuna upé. Asui kuri yasú yakuntari mayé yapuderi yaminhã yamukaturu, yambaka arama nheenga ta, tiarã ta pawa. Upawa sá kití yasú yambeu mayeta yambué yaikú ukuntari maitá nheengatu, ti sa mã umbuesara ta yunté , iké mamé yayumbué waá aikú siía umbuesaraita, aikwé ti ta yuíri umbuesara. Yawé ramē yamã ke yambaka , yamukaturu, yakuntari arama yané nheenga, yandé ti yapuderi yapuraki yané pesua.
Projeto: Diversidade e Pluralidade Cultural na sala de aula – PIBID Letras UFSCar
Geovane Pankararú, Sandra Gatollin, Amanda Post da Silveira
Esta proposta visa relatar os resultados do meu projeto como bolsista PIBID, desenvolvido em uma escola da rede pública estadual, no interior do estado de São Paulo. O trabalho consistiu numa dinâmica interativa para desenvolver narrativas orais em língua portuguesa, provocando impactos na formação do aluno, por meio do relato de suas realidades e assim diminuindo atitudes preconceituosas. Através da construção de narrativas, pretendeu-se promover a aceitação das diferenças e a compreensão de diferentes culturas, etnias e organizações sociais. Segundo Gomes (2007), as concepções atribuídas à diversidade cultural são relacionadas à construção histórica, cultural e social das diferenças, de modo que os diferentes contextos sejam compreendidos por meio do processo histórico cultural. Assim, entende-se que para tratar da diversidade é preciso compreender o contexto em que os alunos vivem e, a partir de suas vivências, fazer relações entre as suas referências culturais e a diversidade cultural brasileiras. Neste trabalho objetivou-se compreender a presença da cultura e de povos indígenas que fazem parte da grande diversidade do nosso país, bem como reconhecer as diferenças entre as etnias indígenas, ao mesmo tempo que esta prática gerou a construção de narrativas orais. Os participantes foram alunos de 8º e 9º ano do Ensino Fundamental em um total de 140 alunos com idades entre 13 e 16 anos. Os encontros foram semanais, durante 4 meses do primeiro semestre do ano corrente, nas disciplinas de História e Língua Portuguesa. A temática indígena foi introduzida inicialmente por meio de uma sondagem dos conhecimentos prévios dos alunos, investigando o que eles sabiam sobre a mesma. Neste sentido, foi exibido o vídeo documentário da TV Escola “Índios no Brasil” – Cap 1 “Quem são eles?” de 17 minutos e 37 segundos de duração, discutindo a maneira como a imagem do indígena era construída a partir da fala das pessoas no vídeo. Foi trabalhada a música “Chegança” de Antônio Nóbrega, para reafirmar a diversidade de povos indígenas no Brasil e as particularidades que cada etnia possui. Foram realizadas rodas de conversa sobre os diferentes povos indígenas brasileiros, destacando algumas etnias que se fazem mais presentes na UFSCar. A atividade proposta para os alunos foi a realização de um trabalho de pesquisa a respeito das etnias indígenas, que deveria ser apresentado oralmente na última aula do primeiro semestre de 2019. Com esta proposta de trabalho, notou-se que os estudantes compreenderam a diversidade de povos indígenas e entenderam que cada povo vive em contextos diferentes, com costumes que precisam ser respeitados. Conclui-se que o tema é de fundamental importância, para o ensino de narrativas orais, e, mais que isso, merece ser discutido interdisciplinarmente nas escolas para que o conhecimento e a cultura estejam interligados na formação de um cidadão crítico e conhecedor da pluralidade e diversidade de culturas que estão ao seu redor.
Não Sou Indio, Sou Guarani
Reinaldo de Jesus Cunha
Este trabalho “escrito na casca da arvore”. É o resultado do apanhado sobre o lugar de fala indígena dentro do universo guarani em contraposição a Juruá, colonizador branco. O Tema: “Não sou índio, Sou Guarani”, foi pautado após entrevista com o Pajé/Cacique ( acende fogo) de nome ( branco ) Augustinho da Silva, (99), que na oportunidade da participação da Assembleia Ordinária do CEDIND/Conselho Estadual dos Direitos Indígenas RJ, em Paraty, (27/06/19) nos concedeu gentilmente uma entrevista, onde teceu comentários falando da natureza viva e do universo cosmológico/guarani; A relação com os parentes indígenas guaranis; A dificuldade da Livre Circulação do Povo Guarani e animais” no território de Juruá. O texto também faz uma reflexão de mundos opostos: O de Nhanderú, que não delimita cerca e permite a livre circulação de homens e animais no universo de Juruá. E do território de Juruá com suas cercas e arames farpados, para impedir a livre circulaçao de homens e animais, nesta vastidão de terras e florestas. E os que ousam pular a cerca sem aviso prévio, serem mortos sumariamente inclusive com apoo estatal. Recente, com a eleição do Presidente Jair Bolsonaro: Os “Proprietários de Terra e Grileiros”, tem intendificado o desmatamento em terras indigenas. A fala do presidente, tem dado ressôncia, uma espécie de salvo conduto e livre arbítrio, para matar e exterminar todos os seres vivos: ai incluindo homens e animais da floresta. Nesse trabalho trazemos também: A narrativa do Pajé/Cacique Miguel Karai Tataxi, (119); A sua luta pela paz e convivência pacifica com Juruá em uma “Terra Sem Lei”. Além de um resumo dos principais problemas nas aldeias guaranis do Estado do Rio de Janeiro. Além da reflexão do Lançamento do Protocolo de Consulta Prévia Tekoa Itaxi Mirim, no Centro Cultural de Paraty, com a presença dos guaranis e autoridades públicas, onde foi elaborado o Protocolo de Consulta Prévia, a ser respeitado por Juruá e representantes da administração pública. E por último: Um Resumo Conclusivo da militância no CEDIND (Conselho Estadual dos Direitos Indígenas); A participação nas Assembleias Ordinárias e/ou Extraordinária realizadas tanto no contexto urbano na Cidade do Rio de Janeiro, bem como: nas Aldeias em reuniões descentralizadas.Usaremos com fontes de pesquisa: entrevistas, relatos de reuniões, material de pesquisa bibliográficas em livros, site, redes sociais, blogs, palestras, seminários, cursos de extensão sobre questões indígenas e outros.
Dialetologia; comparação e mostra de fala de duas comunidades Tikuna-Feijoal e Belém do Solimões
Osias Guedes Alberto
Este artigo é um resumo do meu Trabalho de Conclusão do Curso-TCC que foi apresentado na Universidade do Estado do Amazonas-UEA, Centro de Estudos Superiores de Tabatinga-CESTB, 2016-2017. Nesta pesquisa, propomos um estudo de comparação e mostra de fala abrangente no interior da língua Tikuna. O tema proposto relaciona-se à variação dialetal em Tikuna, que já foi estudado por alguns (linguistas pesquisadores) como Angarita-Watchãücü (2005) e Montes-Rodríguez (2004-2005) na Colômbia. Este estudo, na área de sociolinguística, mostra-nos como a língua indígena Tikuna também adota algumas variações em cada comunidade. Essas variedades pesquisadas são de níveis Fonético-Fonológico e Morfológico, e se apresentam na fala de jovens e adultos usuários da mesma língua. O principal objetivo desta pesquisa era detectar e caracterizar a diversidade de fala a partir da comparação e mostra de fala de moradores das duas aldeias escolhidas como campo de investigação. Como a metodologia deste trabalho, primeiramente, conheceu-se as estruturas das comunidades por meio de carta de permissão ao cacique da comunidade e as suas lideranças. Na coleta de dados, foram utilizadas imagens selecionadas e questionários, um sociolinguístico e um linguístico. O trabalho contou com 12 participantes nas entrevistas, 06 pessoas por comunidade de faixa etária diferente. O resultado obtido nesta investigação foi alcançado por meio de análise de fala individual de membros de uma mesma família, onde se observou fatores de ordem, como também espacial (geolinguística), que foram coletados por meio de usos de palavras e imagens selecionadas na metodologia desta pesquisa.
Fortalecimento da língua Terena
David Henrique da Silva Pereira, Faustino Lipu Pereira
O presente projeto, vem para fortalecer o uso do idioma da língua indígena do povo Terena entre jovens e crianças, através do projeto KALIVONO KOMOHITI, do interior de São Paulo, na Aldeia INDÍGENA Ekerua, localizada no município de Avaí-SP. A presente iniciativa busca envolver jovens e crianças da aldeia, nas atividades de intercâmbio com alunos de outras escolas da região, de maneira que a mesma possa vivenciar como a sua cultura e importante para sua identidade como um Indígena da etnia terena. Assim o uso e o domínio da língua e essencial para participar deste projeto, nesse sentido os mesmos vem apresentando uma realidade no uso do idioma que não se via até então.
A comunidade vem acompanhado e reconhecendo que o projeto tem contribuído cada vez mais para esse fortalecimento.
Assim o objetivo e levar uma experiência que vem dando resultado aos parentes de outras aldeias bem como buscar novas possibilidades de ensino.
Sou professor coordenador indígena da Aldeia Ekerua, pertenço a etnia terena.
“Falamos Tupi Mondé”: levantamento de estudos linguísticos a cerca da língua falada pelos Paiter Suruí de Rondônia
Beatriz Raposo de Medeiros, Naraykopega Suruí, A. Metareilá, Claudia Wanderley
A língua Suruí, ou Tupi-Mondé – o segundo termo sendo mais comum para denominar a língua materna do povo Paiter por si mesmos – tem pelo menos três assuntos instigantes a serem tratados, seja como língua materna, seja como uma segunda língua a ser aprendida por pesquisadores. O primeiro tópico está relacionado ao nível fonético-fonológico: seria uma língua tonal? E qual papel dos ideofones? O segundo, fica entre a fonética e sistemas sonoros: Houve ou ainda há o uso de uma língua assoviada? E o terceiro reside na fronteira entre a fonética e a escrita: Quais as relações grafema-fonemas e como isso pode contribuir para o letramento na língua materna?
Para chegar-se a respostas que de fato contribuam com estudos linguísticos para usuários da língua, aprendizes e linguistas, propusemos um levantamento bibliográfico. Isso só foi possível propor no âmbito da cooperação entre o povo Paiter Suruí e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Nesta cooperação a visão dos pesquisadores não Paiter dialoga com a visão dos conhecedores Paiter. Esses últimos, por sua vez, têm-se voltado intensamente para o ensino-aprendizagem da língua materna. Mais recentemente, com o desenvolvimento da cooperação, temos travado diálogos para aprofundar o conhecimento sobre a língua como sistema. A professora Claudia Wanderley compilou, em pastas digitais nomeadas por ano, cerca de 60 trabalhos referentes a línguas Tupi-Mondé, bem como a assuntos que não podem ser classificados como linguísticos, mas como culturais. Ao todo, foram encontrados trabalhos (a maioria a ser classificada e contabilizada) relativos a linguagem ou mais exatamente linguísticos, datados desde 1974 ( por exemplo, Bontkes, 1974, 1978) até 2018 (Yvinec, 2018). Em todas as áreas da linguística há alguma produção bibliográfica sobre a língua Suruí, ou sobre suas línguas irmãs, como é o caso do Gavião. Assim, por enquanto, mapeamos cerca de 60 publicações, entre elas algumas em língua materna. Para apresentação deste trabalho, selecionaremos publicações de cada área e lançaremos luz aos fenômenos fonéticos já mencionados, bem como sua relação com a escrita. Além de organizar os estudos propiciando seu estado da arte, estamos criando um espaço de interlocução e investigação entre diferentes visões de estudo e pesquisa sobre a linguagem.
Na cooperação Povo Paiter e Unicamp, a base epistemológica requerida pelos estudiosos não-indígenas é a da horizontalidade. Busca-se o intercâmbio de conhecimento com o povo originário e, portanto, reconhecer os seus movimentos de auto-afirmação. Outra parte do projeto, ainda não iniciada, será abordar as noções da língua, escuta dessa língua e sua produção (ou seu fazer) o que alavancará uma organização do saber sobre as atividades linguística dos Paiter. A finalidade disso é que os próprios Paiter indiquem o que fazer com essa organização, avaliando como positiva ou não para resolver as questões linguísticas de sua cultura.
Os Kiriri dos “Sertões” da Bahia: discutindo documentação, revitalização e políticas linguísticas
Pedro Daniel dos Santos Souza, Élvia Martins Falcão Souza, Fernanda Lima Almeida, Jardel Jesus Santos Rodrigues
Até meados do século XVIII, a América portuguesa caracterizava-se por um multilinguismo generalizado (MATTOS E SILVA, 2004), sendo o português uma das diversas línguas faladas e por uma minoria da população. A política linguística implementada pelo Marquês de Pombal, por meio do Diretório dos índios, que determinava o uso da língua portuguesa entre as populações indígenas e a proibição das línguas próprias dos diversos grupos etnolinguísticos e da(s) língua(s) geral(is), desempenhou um papel fundamental para os glotocídios linguísticos testemunhados a partir da segunda metade dos Setecentos. Embora não tivesse conseguido lograr a êxito esperado, essa política e outras variáveis sócio-históricas, como as sucessivas distribuições demográfico-linguísticas, contribuíram para que o multilinguismo se localizasse e o português se tornasse hegemônico. Em função do propalado monolinguismo do Brasil, os silenciamentos da diversidade linguística, sobretudo em relação às línguas indígenas, serviram ao projeto nacionalista de “um só povo, uma só língua, uma só nação”, marginalizando o caráter plurilíngue que sempre caracterizou o nosso país. Na contemporaneidade, em oposição às políticas homogeneizadoras, que, inclusive, encerraram a possibilidade de o Brasil vir a ter uma base linguística indígena e foram, portanto, fundamentais para as reconfigurações sociolinguísticas desse território, as políticas de preservação e de revitalização de línguas indígenas, até mesmo aquelas que envolvem uma prática de retomada para as situações em que se promoveu por completo a substituição da língua indígena pela língua portuguesa, trazem à cena o reconhecimento do multilinguismo brasileiro e a necessidade de uma luta engajada contra as práticas de homogeneização linguística que, consequentemente, se fundam em desparecimento de línguas e modos de viver. Nos “sertões” da Bahia, o povo Kiriri, falante da língua Kipeá, por meio de um processo de substituição linguística, deixou de falar sua língua e, progressivamente, adotou o português como língua materna, passando a fazer parte das estatísticas dos glotocídios que marcaram os três séculos iniciais de nossa história. Fundamentando-se na perspectiva de uma Antropologia Linguística e numa reflexão sobre a realidade linguística dos Kiriri, a Ação Curricular em Comunidade e Sociedade (ACCS) – Educação Diferenciada e Revitalização de Línguas Indígenas, ofertada na Universidade Federal da Bahia (UFBA), nos semestres 2017.2 e 2018.1, buscou discutir sobre os processos de enfraquecimento do uso das línguas indígenas por seus falantes nativos e sua substituição progressiva pelas línguas nacionais dominantes, dando ênfase às implicações sociopolíticas globais e linguísticas que estão envolvidas nesse processo. No presente trabalho, objetivamos apresentar um relato das experiências da ACCS na formação dos sujeitos que deverão estar envolvidos na elaboração e definição das políticas linguísticas para os Kiriri, caracterizadas pela premente necessidade de realização de um projeto de documentação linguística que sirva de base para revitalização da língua indígena desejada e demanda pela comunidade. Como uma atividade da referida ACCS e em atendimento à demanda dos Kiriri, promovemos oficinas de formação dos professores indígenas, das lideranças e de demais membros da comunidade interessados no processo de revitalização da língua indígena, tomando a escola como ponto de partida das ações a serem executadas. As referidas oficinas, que versaram sobre temas como variação e mudança, documentação e políticas linguísticas, história do povo Kiriri e de sua língua, oralidade e sistemas de escrita, abriram caminhos para uma reflexão sistemática sobre a necessidade de um trabalho de documentação da língua indígena Kiriri, ainda na memória dos mais velhos e alguns poucos professores que atuam nas escolas do Território Indígena Kiriri, localizado município de Banzaê, Bahia.
Podcasting Macunaíma: pluralidade da linguagem indígena na cultura brasileira
Luan Correia Cunha Santos, Lisiane Machado Aguiar
Uma das características que configuram o livro de “Macunaíma: herói sem caráter” de Mário de Andrade é toda a base etnográfica que lhe antecedeu. A rapsódia é baseada nos saberes de diversos povos indígenas do Brasil, e utiliza em sua “desgeografização” mística, uma mistura de várias delas para explicar fatos do cotidiano brasileiro (MELO, 2010). Este trabalho apoia-se em um estudo de como a rapsódia, e todos os seus contextos e simbolismo culturais, tem sido atualizada para a linguagem sonora a partir do processe de adaptação da obra para um podcast. Este sendo uma tecnologia que tem demonstrado grande ascensão atualmente no ciberespaço, especialmente por possibilitar que sujeitos que anteriormente não tinham acesso aos meios de comunicação consigam produzir conteúdo e pautar suas narrativas com base em suas vivências. O podcast tem se consolidado como um espaço de pluralidade de narrativas (YOSHIMOTO, 2014). Diante disso, o processo de adaptar a obra de Mário de Andrade amplia os alcances do livro, democratiza seu acesso, inclusive para pessoas com deficiência ou que não sabem ler, e propaga, de forma oral, saberes de diversas comunidades indígenas do Brasil à partir da internet. Nosso trabalho tem como base os estudos sobre os signos linguísticos presentes em Macunaíma, nos traços e heranças culturais de diversos povos indígenas apresentados na narrativa, mas mantém um enfoque em discutir os processos de adaptação dessa diversidade multicultural e diversa para uma mídia híbrida como um elemento para preservação e propagação da diversidade brasileira. Durante a adaptação da obra literária para o podcast contamos com a colaboração de alunos indígenas. Essa experiência linguística possibilitou uma crítica à estética da linguagem sonora e a problematização do podcast na constituição de subjetividades antropofágicas.