Poster Session 2

13 Nov 2019
08:00-09:00
Auditório da Biblioteca do Horto, Museu Nacional, Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro

Poster Session 2

Language as a window on core knowledge and active representations: towards an internalist view of culturee
Pierre Pica

In a series of articles (see Pica & al. 2004, Dehaene & al. 2006, 2007), we have developed an analysis according to which the Mundurucu numeral system represents an instance of the Approximate Number System (ANS).

Like most indigenous languages of Amazonia, Mundurucu makes use of a very narrow set of number words (cf. Pica & al. 2004). In this talk we revisit the consequences of the analysis developed in Dehaene & al. (2006) according to which the limitations that can be observed in Mundurucu should be analyzed in terms of the competence vs performance distinction.

We show in particular that this hypothesis amounts to saying that the distinction between languages that makes use of an unrestricted set of number words and languages that makes use of a narrow set of number words is not a core property of the language faculty but rather belongs to the external faculty of language which involves the relation of language and its interface.
Developing in these terms the analysis proposed by Pica & Lecomte (2008), we show that the variations that they express in terms of « power of compositionality» reduces to external constraints on quantification.

Reanalyzing in these terms the leading ideas of the earlier proposal, we show that the variations observed on both numerical expressions and quantificational expressions reduces to the fact that quantification operates on syntactic variables in English while quantification operates on non linguistic objects in Mundurucu.

We suggest that this type of phenomenon is reminiscent of Chomsky’s (2002) observations (echoing Ken Hale) regarding « non literate or non technological cultures that are called primitive where one finds extremely elaborate cultures that go beyond any functional utility ».

Developing the idea that the objects involved in Mundurucu quantification are not properly linguistic, we show how their study is nevertheless crucial for a proper understanding of the relation between language and non-linguistic knowledge.

We show that non-linguistic knowledge does not include just any kind of knowledge. It involves at least two distinct representations that enable human and non-human animals to reason about the real world: core knowledge representations on the one hand; and active representations such as the representation of chirality or gravity on the other hand (Spelke et al. 1992). We will argue that cultural differences reduce to variation in core knowledge representations and active representations.

We stress in conclusion the importance of this theoretical framework for our understanding of language, culture, language variation, and its implications for language preservation.

Operações matemáticas na formação de numerais em Kadiwéu
Juliana Vignado

Este trabalho investiga as operações matemáticas contidas na interpretação semântica dos numerais da língua kadiwéu. Essa língua pertence a família Guaikurú, e é falada no sudoeste do Brasil no estado do Mato Grosso do Sul (SANDALO,2017) Ionin & Matushansky (2006) observaram que as operações semânticas mais comuns nas línguas naturais para a interpretação de numerais compostos são a adição e a multiplicação, embora existam línguas que também utilizam outras operações. Numerais envolvem operações matématicas em sua interpretação semântica, como por exemplo, adição e multiplicação, o que não é encontrado em outros subsistemas da linguagem humana.
Griffiths (1973) descreveu os numerais do kadiwéu. Para esse autor, os numerais de 1-3 variam em relação a afixos de gênero e afixos de posição. Contudo, Griffiths não considerou que o kadiwéu é uma língua de classificadores numerais. O que ele chama de afixos de posição são na verdade os classificadores da língua que também veiculam informações dêiticas. Essa é uma língua de classificadores de classificador numeral obrigatório e incorporado ao numeral (SANDALO & MICHELIOUDAKIS , 2016). Sandalo observa que o classificador não é obrigatório com numerais emprestados, para ela há duas gramáticas de contagem coexistindo na língua. Sandalo apresenta uma versão mais atual e uma segmentação morfológica mais detalhada sobre os numerais de 1-3. Em (1) são apresentados esses numerais na forma masculina com o classificador -ni-.
1) on-i-n:i-tekibeke ‘um’
um-masc-CL-separadamente
2) i-n:i-wa-ta:le ‘dois
masc-CL-pl-dois
3) i-n:i-wa-tadiGini ‘três’
masc-CL-pl-três
Sandalo (2017) observa que o morfema -wa- nos numerais dois e três é o morfema plural que ocorre em outros contextos. Os numerais de 4-10 não são marcados para gênero. Os exemplos de (4) – (7) apresentam os numerais de 5-7 e 10 , já o número 4 goatolo, 8 oito e 9 no:bi são empréstimos do português.
4) nigotino GobaGadi ‘cinco’
terminar nossa-mão
5) dibatiogi Gobagadi ‘seis’
dedo nossa-mão
6) itowataa-diba-tiogi GobaGadi ‘sete’
dois-dedo -Apl nossa-mãos
7) nigoti-ni GobaGatedi ‘dez’
terminar-plural nossas-mãos
Os numerais de 11-19 são formados a partir da combinação do numeral 10 com outros numerais via a palavra nGigo ‘vai mais’ em uma estrutura aditiva. O dado em (10) exemplifica essa estrutura com o numeral dezenove.
8) nigotino gobagatedi nGigo iniwataale
dez vai.mais dois
O numeral vinte é onokoticGo digo que significa literalmente uma pessoa acabou, i.e. os dedos das mãos e dos pés acabaram, por isso 20. Em diante, os numerais são formados a partir da base 20 em estruturas de multiplicação e soma. Em (9) é apresentado o o numeral 40 para exemplificar as estruturas multiplicativas, cada oko ‘pessoa’ vale 20 e é multiplicada por um numeral de 1-10, o plural tini é opcional e pode ser omitido na fala rápida.
9) oko itowata:le modigo (tini)
pessoa dois terminar plural
‘quarenta’
O kadiwéu também conta com numerais expressados via estruturas complexas,i.e. estruturas com adição e multiplicação, nesse caso a palavra nGigo ‘vai.mais’ é utilizada, ela carrega a semântica da operação de adição. O numeral 52 é apresentado em (10)
10) oko itowata:le modigo nGigo GobaGatedi nGigo iniwata:ale
pessoa dois terminar vai.mais mãos vai.mais dois
‘cinquenta e dois’
No numeral 52, há uma operação de multiplicação em oko itowata:le e então há uma operação de adição com as mãos GobaGatedi e com iniwata:ale.
Os dados mostram que o sistema numeral kadiwéu conta com as operações de adição e multiplicação na formação de numerais compostos. A estrutura aditiva é formada pela raiz oko ‘pessoa’ um numeral e palavra modigo ‘terminar’. Já a estrutura aditiva é formada por dois numerais ligados pela palavra nGigo ‘vai.mais’.

Estratégias de Nominalização na Língua Korúbo (Páno)
Shuanny Goncalves Ramires

A presente proposta consiste na descrição de algumas estratégias de nominalização na Língua Korúbo, falada por cerca de 150 pessoas (SILVA, 2017), que habitam a Terra Indígena do Vale do Javari, sudoeste amazônico e pertencem à família Linguística Páno. Abordamos aspectos dos vocábulos nominalizados pelos morfemas presos -kit e -te. Para chegar ao objetivo, busca-se a identificação, classificação e caracterização dos dados obtidos pelo projeto Documentação, Descrição e Análise da Língua Korubo (PROJETO 914BRZ4019 – EDITAL Nº 004/2017 – Contrato SA-2409/2017 – UNESCO/FUNAI/Museu do Índio), do qual esta pesquisa faz parte. Essa pesquisa contribui para o melhor conhecimento da língua Korúbo, para o maior entendimento da família Páno e para as pesquisas linguísticas sobre línguas indígenas, enriquecendo o conhecimento sobre as nominalizações nessas línguas.

1. INTRODUÇÃO
Os korubo vivem dentro dos limites da da Terra Indígena Vale do Javari, no extremo sudoeste do estado do Amazonas próxima à fronteira Brasil, Peru e Colômbia. Possuem níveis de contato diferente com a sociedade envolvente, são eles: isolados e de contado recente. Silva (2017) afirma que os contatos dos grupos hoje considerados de recente deram-se nos anos de 1996, 2014, 2015.
A língua Korúbo é classificada como pertencente ao ramo setentrional da família Páno. Um agrupamento genético proposto inicialmente por Raoul de la Grasserie (1890) e atualmente é composta por, aproximadamente 30 famílias, distribuídas em várias localidades entre o Brasil, nos estados do Amazonas, Acre e Rondônia; no Peru (Departamentos de Loreto, Huánuco, Madre de Dios e Ucayali) e na Bolívia (Departamentos de Loreto e Pando) (cf. Erikson, 1992, 242).
Esta proposta se colocou a investigar a nominalização por ser esse um processo muito recorrente nos dados que temos da língua korúbo. Apresenta uma identificação e caracterização inicial das estruturas do processo de nominalização na Língua Korúbo que busca apresentar as estratégias morfológicas utilizadas nesta língua. Todos os dados apresentados no trabalho pertencem ao projeto Documentação, Descrição e Análise da Língua Korúbo (PROJETO 914BRZ4019 – EDITAL Nº 004/2017 – Contrato SA-2409/2017 – UNESCO/FUNAI/Museu do Índio), no qual, esta proposta está vinculada.

2. METODOLOGIA

Para a realização dessa proposta, foram consideradas etapas previstas no projeto que buscam possibilitar os objetivos almejados. Foi realizada a audição de dados para um primeiro contato com a língua Korúbo. O contato inicial se deu pela escuta dos áudios do documento projeto Documentação, Descrição e Análise da Língua Korubo (PROJETO 914BRZ4019 – EDITAL Nº 004/2017 – Contrato SA-2409/2017 – UNESCO/FUNAI/Museu do Índio. Depois dessa etapa, com o objetivo de identificar os morfemas foram feitos os cortes de áudios a partir de orações elicitadas em trabalho de campo com o auxílio do programa praat, sendo separadas todos as as sentenças que continham os morfemas -kit e -te. Por fim, todos os dados foram organizados em tabelas são que depois foram utilizadas para alimentar o programa Fieldwork Languages Explorer – FLEX.

3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS
Devido a sua alta ocorrência na língua Korubo, o morfema -kit ocorre em contextos sintáticos muito diversos e os elementos nominalizados também ocupam funções muito diversas e buscou-se caracterizar principalmente a que elemento as nominalizações se referem na oração e qual a estrutura dos elementos nominalizados. São elas:
A) Sujeito transitivo
B) Sujeito intransitivo
C) Verbo cópula
D) Objeto direto
F) Nominalização de adjetivo
G) Nominalização de verbos flexionados

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O morfema -kit ocorre em contextos sintáticos muito diversos e os elementos nominalizados também ocupam funções muito diversas, enquanto o morfema -te apresentam uma semântica interpretável como instrumento ou objeto de X”.

Um fenômeno de nasalização opcional em Yaathe, língua indígena brasileira
Crislaini da Silva Dias, Januacele da Costa

Neste trabalho, nosso objetivo é descrever e analisar fenômenos que envolvem um caso de nasalização opcional no Yaathe, língua indígena brasileira. Para isso, utilizamos dados de narrativas semiespontâneas que pertencem ao Projeto de Documentação da Língua Indígena Brasileira Yaathe (Fulni-ô), coletados entre 2011 e 2013. Muitas das nossas considerações sobre o Yaathe serão fundamentadas nas pesquisas realizadas por Silva (2016; 2011) e Cabral (2009) e, para a nasalização, sobretudo, nos basearemos nas descrições realizadas por Dias (2017) e Costa (1999). Para melhor explicar os fenômenos atestados, nos apoiamos na teoria Autossegmental proposta por Goldsmith (1976) e na Fonologia Prosódica de Nespor e Vogel (1986). Até então, para verificar a nasalização opcional, descrevemos os contextos e realizamos análise acústica no software PRAAT. Os resultados preliminares apontam tanto a existência de uma nasalidade progressiva, diferente da nasalidade mais sistemática da língua, que é regressiva, bem como que a aplicação da regra não é categórica. Nossa hipótese é de que a nasalização opcional, causada em morfemas de temporalidade simultânea [-ma], no Yaathe, possivelmente ocorre devido à fronteira de domínio fonológico, nesse caso, em fronteiras mais altas, como os sintagmas entoacionais.

Uma revisão sobre o uso dos classificadores na língua Terena (família Arawak)
Rogério Vicente Ferreira

O classificador verbal necessita, conforme Aikhenvald (2000), categorizar um nome que geralmente está em função de S (sujeito intransitivo) ou O (objeto direto) em termos de sua forma, consistência e animacidade. Com relação aos classificadores em geral nas línguas do mundo, Lyons (1983) afirma que a maioria das línguas que apresentam classificadores, além de classificadores cuja especificação semântica é usada para se fazer referência a tipos específicos de entidades (seres humanos, animais, plantas, objetos achatados, objetos arredondados etc.), também é possível serem encontrados classificadores gerais que podem ser empregados com referência a todo tipo de entidade. Em terena há classificadores, já apresentado por Butler e Ekdahl (1979) como qualificadores e revisto por Marcus (1991) como classificadores, contudo a pesquisadora manteve a mesma análise apresentada anteriormente por Butler e Ekdhal (idem). As pesquisas mais recentes confirmam a presença de classificadores na língua terena, contudo nada ainda estudado. Com isso, faremos uma abordagem dos classificadores que ocorrem em terena. Os dados obtidos divergem do que foi apresentado até o momento, neste trabalho demonstraremos que há uma confusão até então de morfemas que funcionam como incorporadores nominais e outros como classificadores, além de também de outros dados que demonstram estarmos diante “apenas” de palavras compostas, como é o caso ombépovo 1PS/osso.ombro “cravícula”, que fora analisado como classificador. A língua terena ainda possui muito a ser estudado, principalmente no que tange as questões morfológicas e sintáticas, aqui buscamos focar nas questões dos classificadores que são comuns nas línguas da família Aruak.

Nheengatu Dâw
Thomas Finbow

A região do Alto Rio Negro ficou renomada pela grande diversidade étnica e linguística e pela riqueza em fenômenos linguísticos e culturais decorrente das intensas e complexas interações entre os povos indígenas e com a sociedade nacional. Nesta apresentação destacaremos um cenário menos conhecido: a documentação e análise do Nheengatu falada pelos membros mais idosos da etnia Dâw (família Nadahup).
O Nheengatu, também conhecido como Língua Geral, pertence ao ramo Tupi-Guarani da família Tupi. As maiores populações de nheengatúfonos habitam atualmente as margens do Rio Negro, porém, a língua não é originária dessa região, chegando com a colonização europeia. Desde o século XVIII, o nheengatu é a língua franca do Rio Negro e substituiu várias línguas ancestrais como o Baré, da família Arawak. Hoje, o Nheengatu é a língua associada à identidade étnica Baré, contudo, é falado também pelos Baníwa do baixo Içana e pelos Warekéna do rio Xié. As variedades desses grupos foram investigadas no maior estudo da língua Nheengatu (Cruz 2011). Outros trabalhos focaram aspectos pontuais das variedades desses grupos Arawak, p. ex., Borges (1991, 1996), Barros, Borges Meira (1996), Cruz (2005, 2007), Freire (2004), Moore (2014), Moore, Facundes e Pires (1993), Taylor (1985), entre outros. No entanto, até o momento, pouco ou nada se sabe das variedades do Nheengatu faladas por dois grupos Nadahup, os Dâw e os Nadëb.
O contato Nheengatu-Dâw é de longa data, existente pelo menos desde o século XIX (Becerra, em Epps & Stenzel 2013, Koch-Grünberg 1906, Métraux 1963, Nimuendaju 1950). No século XX, desde pelo menos a década dos 1940, os Dâw trabalhavam no extrativismo, particularmente da piaçava e do cipó, nos afluentes meridionais do Rio Negro (Curicuriari, Marié e Teá), para patrões Baré ou brancos, com quem eles se comunicavam na língua franca regional (Assis 2007, Santos 2015,Storto, Epps et al. 2016). Entre os Dâw, o Nheengatu é falado de forma fluente ainda pelos membros da comunidade Waruá com aproximadamente 60 anos, que são trilíngues em Dâw, Nheengatu e português. A variedade está gravemente ameaçada, pois não está sendo transmitida. As gerações mais novas falam apenas Dâw e português. Nosso objetivo é de criar um acervo de material audiovisual para registrar o uso do Nheengatu entre os Dâw como documento histórico para a comunidade e para estudar as particularidades linguísticas dessa variedade no contexto de uma investigação maior da variação linguística no Nheengatu.
Os dados analisados em nossa investigação foram extraídos de narrativas pessoais gravadas com seis informantes da comunidade Waruá em julho de 2017 e em julho de 2018. Os fenômenos detectados entre o Nheengatu Dâw até o momento abrangem à fonética (apócope vocálica) para alinhá-la à estrutura silábica CVC do Dâw (Martins 1994, 2005), a morfologia (nivelamento de paradigmas número-pessoais) e a sintaxe (marcação posposicional do complemento direto). Em geral, parecem tratar-se de influências da língua Dâw sobre o Nheengatu do falante. Além disso, o estatuto de segunda língua entre os Dâw da língua Nheengatu pode ser instrutivo a respeito dos tipos de influência sobre uma língua franca, como a Língua Geral Amazônica, quando não é a primeira língua de uma comunidade.

Alfabetização dos alunos Apyãwa/Tapirapé na língua materna
Xario’i Carlos Tapirapé, Makato Tapirapé

A língua é considerada, atualmente, pelo povo Apyãwa, um aspecto fundamental de sua identificação enquanto povo indígena. Ela é falada em todas as comunidades. Todas as crianças aprendem primeiramente a língua Apyãwa. A conscientização para a manutenção da língua tem que ser fortalecido, e a língua Apyãwa, desde o início do processo de escolarização, passaram a ser objeto de estudo nas escolas.
O objetivo desse trabalho é mostrar a importância da alfabetização dos alunos Apyãwa/Tapirapé na sua própria língua materna como as crianças Apyãwa/Tapirapé são alfabetizadas na series iniciais. Pois quero mostrar a minha experiência de fortalecimento, na valorização e preservação da nossa própria escrita dentro da sala de aula.
Por isso mesmo, até o presente momento, a língua e a escrita Apyãwa/Tapirapé se mantenha fortemente e viva para que as crianças futuramente continuem com essa mesma mentalidade para que eles mesmos possam registrar vários conhecimentos do nosso próprio povo.
Para alfabetizar as crianças Apyãwa na sala de aula ocorre de várias maneiras com as figurinhas, desenho, onde apresenta uma fichinha de vários pronunciamentos das palavras com letramentos na Língua Apyãwa/Tapirape, por exemplo: Y: Yãra, Na: Naraxy.
Pretendo também, com o meu trabalho contribuir com a educação escolar em nossas aldeias, elaborando um livro didático para uso dos alunos e professores.
Com esse fortalecimento, na valorização e preservação da educação tradicional, a comunidade é incentivada a respeitar as formas de transmissão de conhecimento para as futuras gerações Apyãwa dentro da sala de aula.

O aconselhamento apyãwa (tapirapé) nos diversos contextos: das casas à escola indígena
Fabiola Mareromyo Tapirapé

A fonte deste trabalho é meu pai KAOREWYGI TAPIRAPÉ, de 80 anos de idade, um dos moradores mais velhos da aldeia tapirapé Tapi’itãwa da Terra Indígena Urubu Branco, no estado de Mato Grosso. Gostaria de investigar as diferentes modalidades de aconselhamento apyãwa, dos mais velhos aos mais novos – sejam crianças ou jovens. Por isso consultei meu pai que conhece dos detalhes dos conselhos apyãwa (tapirapé). Eu, Mareromyo Tapirapé, sou professora da escola indígena e também estou interessada nos conselhos que ocorrem no ambiente da escola. Os mais velhos têm a responsabilidade de aconselhar e participar da formação dos jovens, assim como ocorre entre os professores e alunos na escola. Pudemos constatar, através da pesquisa, que não distinguimos quando falamos na língua apyãwa essas diferentes modalidades de aconselhamento, sejam eles dados no interior das casas ou no espaço da escola. Por exemplo, dizemos –xamagetaãwa para aconselhamento nos mais diferentes espaços de interação. Contudo, observamos que existe uma diferença no significado dos conselhos dados no ambiente de casa, para as meninas e meninos, daqueles dados de modo mais geral na sala de aula. Eu me proponho, na apresentação deste trabalho, fornecer exemplos dos diferentes modos de conselho e seus espaços de interação.
Os conselhos dito para as meninas e meninos é dado desde muito antigamente e é um modo de valorizar nossas crianças ao ajuda-las a seguir algumas ideias. Por exemplo, o aconselhamento é dado para as meninas desde infância até que elas virem moças. As meninas recebem o seu aconselhamento dentro da sua própria casa, pela mãe, pai, avó, avô e outros parentes próximos para que futuramente elas possam ser mulheres trabalhadoras, ou seja, saber as atividades feitas pelas mulheres Apyãwa. Com isso, as meninas apyãwa vão sendo aconselhadas e a aprendizagem delas ocorrem da experiência das suas mães e avós dentro da própria casa dela. Na escola, os conselhos para as meninas e meninos (e moças e rapazes) são sobre a importância da aprendizagem da língua apyãwa (na forma escrita também) e de se aprender a língua do Maira (português) para o povo Apyãwa ficar mais forte. A formação dos jovens apyãwa ocorre nos dois espaços concomitantemente (casa e escola) e os conselhos marcam as diferentes fases da vida na aldeia.

Aprendizagem bilíngue no ensino da linguagem indígena com ênfase na língua Akwe-Xerente
Gustavo Kanokra Xerente, Paulo Fernando Sitmoru Xerente, Neila Nunes de Souza

A presente pesquisa tem por finalidade abordar as concepções da língua Akwẽ / Xerente, que é autodenominada pelos povos indígenas residentes nas aldeias do município de Tocantínia – TO. Temos como objetivo explanar a composição do alfabeto xerente e as características fonêmicas das letras. Apresentaremos a forma correta de leitura e escrita da língua Akwẽ / Xerente. A pesquisa tem como justificativa a grande relevância, pois segundo os anciões a nossa identidade é a língua Akwẽ e é a origem de que nos definem. A língua Xerente, pertence à família linguística Jê do tronco linguístico Macro-Jê e seus parentes linguísticos mais próximos são os Xavante, de Mato Grosso e os Xakriabá, de Minas Gerais. Sendo assim, é essencial o conhecimento da língua indígena, em específico do povo xerente, seno que somos um país plurilíngue mas não conhecemos a cultura e nem a língua do outro.

A organização social Xerente, de acordo com sua pintura corporal
Moises Wakuke Xerente, Mauricio Alves da Silva

A presente pesquisa pretende apresntar a organização social dos indigenas a partir da pintura corporal. Os Xerente são uma sociedade dualista. O grupo todo está dividido em duas metades exogâmicas e interdependentes, possuindo, cada uma delas, três clãs distintos. Todo indivíduo Xerente pertence, obrigatoriamente, a uma ou a outra Metade, e esta identificação é recebida hereditariamente, por parte do pai. Cada Metade possui as suas características peculiares que a distinguem da outra. Só basta saber-se que tipo de pintura o indivíduo usa no corpo, qual o seu nome próprio (no caso dos homens) ou ainda, como antigamente, em que lado da aldeia ele construiu a sua casa, para se saber a que Metade ele pertence.
A pintura corporal do povo xerente, são identificados por metade ser vista como os “os donos dos círculos” essa por conter umas series de bolinhos no corpo. Já a outra como “os donos das listras” por possuir vários risquinhos, horizontal e vertical, conforme qual clã pertence.

Experiências de resgate da língua e cultura Sakurabiat
Silvana da S. Cunha Guaratira (Sakurabiat), Carla Daniele Costa

O povo indígena Sakurabiat (Sakyrabiar, Sakyrabiá) vive tradicionalmente na região Norte do Brasil, no atual estado de Rondônia. A Terra Indígena Rio Mequens foi demarcada em 1996, e hoje tem quatro aldeias, mas o número de famílias não é muito grande, pois muitas pessoas faleceram por causa de epidemias de doenças e outros problemas. Durante muitos anos, a língua materna dos Sakurabiat não foi aprendida pelas crianças e jovens. Atualmente somente os idosos e alguns adultos com mais de 50 anos falam a língua materna do povo, cerca de 12 pessoas, o que a coloca em sério risco de desaparecer. A partir desse contexto, relataremos algumas ações de resgate da língua e cultura Sakurabiat, com base no processo de ensino da língua no contexto de educação escolar indígena. Foi principalmente a partir do ingresso de três jovens da etnia Sakurabiat no curso de formação de professores indígenas no nível de magistério – Projeto Açaí – realizado pela secretaria de educação do estado de Rondônia (SEDUC-RO), que iniciamos as ações de resgate da língua e cultura Sakurabiat no contexto educacional, tendo em vista a reflexão e tomada de consciência do valor das línguas indígenas, especialmente para os próprios povos indígenas. Uma das primeiras atividades foi a realização de duas festas na comunidade Baixa Verde, em que foram resgatados conhecimentos tradicionais de produção de comidas e bebidas, e seus respectivos nomes na língua indígena, além de algumas músicas e pinturas corporais. Ilustraremos nosso relato com exemplos de atividades sobre o ensino da língua materna, realizado por uma das autoras, a Professora Silvana Guaratira (Sakurabiat), na escola indígena Aipere Koopi, situada na Aldeia Baixa Verde. A experiência envolve atividades de ensino da língua materna dos Sakurabiat vinculadas a questões culturais, como contação de histórias na língua indígena e tradução para o português, sempre com auxílio de um falante fluente da língua. Outra atividade de resgate da língua e cultura feita na escola foi a confecção de um livro de receitas medicinais, realizado pelos alunos com auxílio do pai da professora, e que também é pai e avô de alunos da escola, e é falante fluente de Sakurabiat. Ele ensinou os diferentes tipos de ervas e seus benefícios, além dos nomes das plantas na língua Sakurabiat. Com esse relato, buscamos refletir sobre as motivações e desafios de resgate de língua e cultural tradicional, a partir da experiência Sakurabiat.