Communication sessions

13 Nov 2019
15:30h-18:00h
AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA DO HORTO, MUSEU NACIONAL, QUINTA DA BOA VISTA, RIO DE JANEIRO

Communication sessions

1. Um instrumento de testagem para investigar o conhecimento linguístico de crianças bilíngues em comunidades indígenas
Wendy M. Leandro, Luiz Amaral

Muito tem se falado sobre a importância do ensino bilíngue em escolas indígenas em Roraima. Contudo, faltam programas curriculares de línguas indígenas bem plenejadas, materiais didáticos e formação adequada para que os professores possam lidar com as necessidades dos alunos que falam uma língua indígena além de português. Este trabalho apresenta a primeira versão de um teste de vocabulário para ser usado por professores das comunidades da região da Serra da Lua com o objetivo de avaliar o conhecimento linguístico de aprendizes de Wapichana na faixa etaria entre 5 e 8 anos. O estudo é baseado na elaboração de um teste de compreensão e um de produção. Durante o processo de validação dos testes enfocamos alguns procedimentos de validação de construto e de face. Nossos dados mostram que, além dos neologismos, as crianças que são fluentes na língua têm um bom conhecimento das palavras apresentadas nos testes. Além disso, os professores de língua wapichana e outros grupos de interesse aprovaram os testes, pois acreditam que foram preparados dentro da realidade das crianças e que são adequados ao seu nível de compreensão da língua.

2. Juntos somos mais fortes!
Gustavo Ferreira Silva, Damazinho Maxakali

Trata-se da iniciativa decorrente da articulação entre a Secretaria de Cultura do Município de Bertópolis-MG e comunidade indígena da etnia Maxakali – Aldeia Pradinho, que incluiu o ensino da Língua Maxakali no currículo das escolas municipais não-indígenas, ministradas por um professor da referida etnia, com metodologia própria. Até o presente momento, não se tem notícias de que haja no Brasil outro município que tenha incluído uma língua indígena como disciplina em suas escolas.
No sentido de garantir a continuidade da ação, foi articulada a aprovada Lei Municipal que torna obrigatória a inclusão da disciplina da Cultura Maxakali no currículo das unidades escolares de Ensino Fundamental I ( 1 ao 5 ano e EJA) de toda a Rede Pública Municipal no referido município.

3. A linguagem do ritual Apyãwa
Nivaldo Korira’i Tapirapé

O povo Tapirapé autodenomina-se APYÃWA, pertence à família linguística Tupi-Guarani, tronco Tupi. Habita o nordeste do Estado do Mato Grosso, a região do Araguaia, nos municípios de Confresa, Porto Alegre do Norte e Santa Terezinha. Este povo se distribui em dois territórios denominados Urubu Branco e Tapirapé/Karajá. O povo ainda mantém a sua língua materna, tradições, costumes e a sua organização social. Os Apyãwa têm uma experiência de vida exemplar de manutenção de sua língua materna que, até o momento está dando certo, porém, pouco conhecida nacionalmente e até mesmo regionalmente. O objetivo deste trabalho é mostrar que preservar uma língua é muito mais do que “falar” e sim fortalecer e valorizar o conhecimento que ela produz para um povo indígena. Considera-se a base de todas as sabedorias indígenas ou de uma sociedade. Neste artigo, abordamos a língua como um patrimônio principal de um povo indígena que mantem viva as suas práticas culturais, focalizando a linguagem dos rituais. O povo Apyãwa é sobrevivente de um desastre que quase o levou a extinção étnica e linguística no século passado que hoje tem uma experiência fantástica para dialogar com outros povos a experiência linguística fortalecida e valorizada. A escola é uma ferramenta fundamental que apoia esse trabalho com as crianças.

4. A vitalização da língua Kokama além das fronteiras entre o Brasil e Peru
Altaci Corrêa Rubim

É sabido que o povo Kokama está localizado na Amazônia Brasileira, Peruana e Colombiana. Entretanto, o foco do presente estudo está em apresentar a política de vitalização da língua do povo Kokama/Kukama-Kukamiria-KK, além das fronteiras entre o Brasil e o Peru, por lutarem juntos pela vitalização da língua de seus ancestrais. A Língua em prol da defesa dos territórios, dos rios, das matas, dos animais, das aves, dos peixes, ou seja, em prol da vida. Nessa perspectiva, o povo KK utiliza diferentes estratégias para vitalizar sua língua, como: as novas tecnologias com a utilização do celular (aplicativos: Kokama Tradutor, Wawa, Kukamate, Artesania Kukama, 5fish, Kumitsa, Farmácia Viva e Mitologia Kukama); animação: El origen del Pueblo Kukama e o jovem garça; vídeos: aprendiendo Kukama: peixes grandes e pequenos, aves, macaco, partes do corpo, jogos e vídeos de ikaros (cantos de cura, de proteção e agradecimento). Nesse processo, os KK produziram um vasto acervo de materiais didáticos KK de diferentes gêneros textuais (histórias em quadrinhos, paradidáticos com nomes de animais, frutas, coisas, aves, peixes, narrativas, comidas típicas e poesias); materiais didáticos: coletânea de ensino e aprendizagem, entre outros tanto no Brasil quanto no Peru. No Brasil, os professores KK, realizam anualmente encontros e oficinas para troca de experiências, saberes, materiais didáticos, aplicativos, danças e cantos com a colaboração das organizações do Brasil e do Peru, além de instituições parceiras e colaboradores. Atualmente, foi criada a Organização dos professores indígenas Kokama da Amazônia Brasileira e Peruana- OPIKABP com o objetivo de fortalecer a vitalização da língua KK entre ambos. Nesse sentido, a política de vitalização desta língua é realizada pelo próprio povo que entende que ensinar a língua é mais do que ensinar gramática, a fonética, a morfologia. Para Baktin (2003), ela representa uma gama de significados relacionados à vida dos agentes sociais. É o que os povos indígenas consideram como o espírito da língua ou a essência do que realmente se quer dizer ao ensinar uma língua. Dessa forma, o povo KK do Brasil e do quebram as barreiras políticas, linguísticas, culturais e geográficas para juntos vitalizar a língua de seu povo.

5. Revitalização e ensino da língua Puruborá
Mário de Oliveira Neto (Puruborá)

Nós, o povo indígena Puruborá, vivemos tradicionalmente na região Norte do Brasil, no atual estado de Rondônia. Desde o início dos anos 2000, estamos lutando para garantir nossos direitos enquanto povo originário. Atualmente temos uma escola indígena Puruborá e professores contratados para trabalhar o resgate e fortalecimento da língua e cultura Puruborá, no contexto educacional. A língua Puruborá não foi falada durante muitos anos, chegou perto de desaparecer. Atualmente somente duas pessoas bem idosas, meus tios, é que ainda possuem todo o conhecimento de falantes da língua. A partir de 2001, foi feito um trabalho de documentação dos saberes deles e de outros falantes vivos à época, coordenado por Vilacy Galucio, que ajudou a resgatar muitas informações sobre a língua. A partir desse contexto, irei relatar nossa experiência atual no processo de resgate da língua e cultura Puruborá e a motivação para realizar esse processo. Centrarei o relato, na minha experiência pessoal, minha motivação e vontade de aprender o pouco que existia de registro da língua Puruborá e depois continuar aprendendo com os mais velhos aquilo que eles ainda lembravam, e assim ser escolhido pelo povo para ser o professor indígena Puruborá. A partir da nossa experiência e do trabalho para que os alunos aprendam sobre nossos costumes tradicionais, mostrarei exemplos de como trabalhamos a língua, através de vídeos e livros, e de conversas com os mais velhos, sempre que temos oportunidade. Ilustrarei o relato com um canto Puruborá feito por nós, professores e alunos Puruborá, mostrando a importância para nosso povo do início do trabalho de recuperação da língua Puruborá, a partir do qual nossa cultura foi se fortalecendo muito. Esse processo foi de grande importância para nós, porque abriu nossos interesses para buscar mais informações sobre nosso povo. Com isso estamos conhecendo mais sobre nossa própria história, que para os mais jovens não existia mais.